"A mãe de uma amiga redescobriu o câncer que acreditava ter vencido há alguns anos". Era uma quinta-feira quando ouvi minha colega de trabalho relatar esse fato. A disse, em resposta, o que sempre repito quando me falam da morte, ou da sua iminência: "dizem que só vivemos uma vez. Mas, quantas vezes morremos?". Expliquei que esteve aí o motivador da minha busca e do meu encontro com Deus. Sempre me foi pouco supor que essa vida seria o fim. Finalizei dizendo que havia uma única certeza, apesar de todas as incertezas que era viver: ou viríamos a partida ou partiríamos nós. Era preciso se preparar para perpassar por ambos os momentos com visão transcendental. Indiquei um livro e, precedida de um profundo suspiro por parte dela, a conversa se encerrou.
O trabalho continuou, naquele dia, como acontece com a vida, em todos os outros dias, tendo a morte feito parte ou não dele.
Nada foi dito até a próxima segunda-feira, quando, assim que entrou em sala, declarou: "a mãe da minha amiga faleceu". Abaixei a face em um sincero ato de contrição. Me deparar com a morte causa isso. Urgência, arrependimento, medo, e, ao fim, um pedacinho de esperança. Meus pensamentos foram interrompidos por essa mesma colega dizendo: "me lembrei de você durante o velório, ao pensar que havia algo diferente ali. Uma oração silenciosa feita em paz pelo os que se despediam. Um pesar agradecido pela oportunidade de atravessar. Uma família católica, religiosa, crente, terna e duramente agradecida a Deus. Você esta certa. Havia algo maior ali". Sabemos que sim.
Desperdiçar a vida é desperdiçar a morte, derradeira e única chance de triunfar.
"Aos 'outros', a morte os paralisa e assusta. A nós, a morte - a Vida - dá-nos coragem e impulso. Para eles, é o fim; para nós, o princípio".