Houve uma pessoa a quem muito amei. Uma amizade que me doeu (e custou) deixar partir. [Veja, mesmo a voz passiva que emprego indica o problema de tudo, a origem do fim].
Na impossibilidade de manter o afago, pois já havíamo-nos ferido, mantive o conflito, uma forma de fazer perdurar um vínculo. Pesava-me mais o nada que a batalha. A batalha, na verdade, foi uma forma de manter um futuro onde houvesse nós duas em cena.
Cultivar o conflito era o medo do desenlace. A tentativa do "talvez". Quem sabe tudo pudesse voltar a ser como antes? Ainda há o que resolver, um problema para enfrentar. Uma conversa por fazer. Um por vir, mesmo que originado do atrito.
O fato é que a conversa chegou. E com ela, uma enchente. Lágrimas, tristeza, cólera. Arrastou tudo o que houve em meio a sentenças como "o que aconteceu entre nós?" / "eu te perdoo" / "você sempre foi dona do meu perdão". Olhávamos fundo d'alma. Reconhecíamo-nos do passado, mas não sabíamos mais quem erámos.
No fim das contas, ocorreu o previsto: o perdão que nos demos foi o fim do futuro que reservávamos para a guerra. Depois dela, nada restou.
[Há batalhas que escolhemos para mantermo-nos vivos. Há batalhas que escolhemos para que os outros vivam em nós].
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