quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Pisadas

Eu olho para frente e vejo uma estrada vazia. Nela, estamos ele eu, de mãos dadas e mais todos aqueles quilômetros que nossos olhos não podem alcançar. É uma planície, deserta e solitária. Não há construções, não há movimento, não há nada. Somente nós dois. 

Estivemos caminhando por um bom tempo nesta mesma estrada, embora ela já tenha sido tantas. A paisagem mudou diversas vezes. Mas, nos mantivemos de mãos dadas, na maioria do tempo. Os pés e o corpo se cansaram, por vezes. Respeitamos, paramos e descansamos. Fizemos do caminho e do caminhar a nossa casa. E para a frente continuamos, até aqui. Evoluindo e amadurecendo a cada pisada. Percebendo novas cores a cada vez que ia se pondo o sol. Descobrindo novas virtudes no amanhecer. 

Durante esta jornada, que já dura alguns anos, nos reinventamos continuamente. Perdoamos um ao outro pelos tropeços e desvios cometidos, reconhecendo que são, em alguns momentos, necessários para nos retomar ao prumo de nossas escolhas. Perdoamos, também, a nós próprios, intimamente, e em solidão. Afinal, sabemos que, embora tenhamos estado juntos, cada um trilhou sua própria expedição. Fomos peregrinos neste caminho.

Nessa estrada que vem vindo em nossa direção (pois já não somos nós vamos), sabemos que podemos nos deparar com bifurcações. E dói imaginar uma partida em que, fisicamente, os caminhos sejam diferentes. Hoje, eu olho para frente e vejo uma imensidão de milhas que jamais poderia prever e contar. Dá medo, quando anoitece. Todos os  passos já dados dão esperança da beleza do que há por vir. A mente e o coração não se limitam em imaginar. 

Mas, quando o sol deixa seu crepúsculo no céu e sobe a lua, anunciando o seu cantar. Quando só podemos enxergar estrelas e não há nenhum som ou outra luz... Então, ali, fecho os meus olhos e rezo. Rezo por medo de onde este novo caminho nos conduzirá. Ali, eu aperto as mãos dele, só para me certificar de que ainda o tenho comigo. Deixo as lágrimas virem, não tenho receio de chorar. Vou caminhando, contudo, e acalmando o meu coração. Olhando pra trás, recordando os passos que demos juntos. As escolhas que fizemos, as escolhas que nos fizeram. E minha respiração se branda, confio no peito que eu deito.

Saberíamos percorrer essa viagem sozinhos. A vida é uma trajetória única, sim. Cada um constrói o seu próprio caminhar. Mas, escolher dar as mãos e combinar passos e sonhos foi a chave que nos trouxe tão longe. E eu sinto que há muito mais.