segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

Eu odeio ouvir "não", porém é preciso

De volta a 2009. Estou sentada no meu quarto em Colatina - duas camas, uma mesa de plástico branca e  redonda no meio delas; em cima, meus cadernos espalhados, canetas e rascunho -, as pernas estão, lado a lado, fazendo a curvatura do colchão, direcionadas ao chão. Eu olho uma parede branca que não tem fim. Do meu lado esquerdo, o vidro da janela que quebrei com a mão, num momento de raiva. Eu amava aquele lugar, mas precisava fugir dali.

Por trás, como em modo retrato dos telefones atuais, um mundo de opiniões sobre mim. "Não sabe ouvir não. Não sabe ser grata. Não para de sonhar. Siga a receita, Brigida, esta pronta e o bolo irá crescer, não solar. Faça bolinhos de chuva, os lambuze no açúcar e fique nessa cidade que te viu crescer, você pertence aqui. Não há motivo para fugir, sempre iremos te alcançar. Terá desse lugar em toda parte que você possa ir, porque você o levará consigo. Coma os bolinhos de chuva que você fez com café. É essa a vida, cheia dessas coisas todas que a gente perde e tem que se contentar".

Estou sentada de frente para minha parede, que é branca. Eu vejo um quadro e estou com o pincel na mão. Eu vou escolher as cores, eu sei. Mas, eu amava aquele lugar, não mexeria num só detalhe. Ainda assim, era preciso fugir.