quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Na boca um sal, um amargo
Na cabeça um ideal, devaneio
No peito um grito, um desespero
Nas mãos o mundo, um deserto
Nos dedos uma terra, um cansaço
Nos olhos o delírio, um tempero
feito de lágrima e desilusao.

terça-feira, 27 de setembro de 2016

Ei, trocador. 
Meu troco ta errado a algumas estações. 
Passou o outono, passou a primavera, chegou até mesmo o verão...
Meu erro foi ter dado demais ou de menos?
Vontade mesmo era de ter pulado a roleta.
Se não dispomos do nosso próprio tempo, somos livres?
Se não conhecemos a nós mesmos, quem somos?
Se não falamos o que pensamos e não pensamos como agimos, o que nos legitima?
Se não somos capazes de nos questionar, não somos capazes de nos responder.
Quando a guerra esta por dentro de si, não há lado vencedor. 
Falta-me diplomacia para conciliar-me por dentro.

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Do voar

Fez asas de papel e pulou do precipício. Oras, disseram-lhe que o bom da vida era voar. Mal soube do chão ansioso por sua chegada.
Desavergonhada. Militante dos próprios amores. Um inquietante costume de romper. Poderia aparecer de cabelos pintados, não notariam. Pensam mesmo que a rebeldia é a sua definição.
Rebeldia, devo dizer, amarrada à loucura de buscar-se. Mas não advogam sua causa, chamam-na de desavergonhada.
"Talvez se em casa, aprisionada, da maldade livre estaria", diziam.
Há de ser dito: pro mar não servem algemas. E há quem mesmo algemado lança-se a navegar.
Talvez por isso, à beira do precipício, disseram-na para pular. Às vezes, alguns, desejando o próprio chão.
Convencida pelas próprias razões, afinal, pulou, pois o bom da vida era voar.
Sem saber que seu voar era cair, abriu seus braços e suas asas de papel, desejando o mundo.
Mundo, mundo, é mesmo este o precipício?
Se dissestes que era tão profundo...
Se dissestes que tão pesado eras... Haveria de ter batido mais as asas, pois de querer-lhe, jamais desistiria.
Mundo, mundo. Podem mesmo estas asas serem de papel, pois o bom da vida mesmo é voar. Pode mesmo este cair ser o meu voo.
Hei de cair, hei de voar, se for este, ao fim, o exato preço de se ser.

sexta-feira, 1 de abril de 2016

Fim

Enfim, o fim.

O fim por um tempo para si.
O fim do quase. Do pouco.
Um fim pras migalhas.
Pro corpo cansado.

Um fim, enfim.

segunda-feira, 21 de março de 2016

Enfim.

Enfim, a paz.

A paz da cabeça feita.

Da mente que cria o sonho. Da mente que antecipa o sonho. Do sonho que amanhece verdade num dia comum. Desse arrepio ansioso pelos novos caminhos.

A paz do corpo leve.

A paz que te conecta com o barulho. Do barulho que vem la de dentro. Do barulho que vira palavra. Melodia. Desenho. Silêncio. Do barulho que engrandece.

A paz que te faz confiante. Que te faz acreditar. Arregaçar mangas. Levantar. Teimar. Ter glória nas pequenas coisas. Vencer a própria desconfiança. Acertar os passos. Encontrar o próprio destino. Cruzar as próprias esquinas. Perde-se, em alguns pontos. Encontrar-se, espontaneamente.

Aquela paz que faz os olhos se fecharem na frente do mar. Que faz sentir o vento por dentro de si. A plenitude de ser exatamente quem se é. E ser a melhor versão de si mesmo.
Ser destemido. Ser corajoso. Ser um maluco beleza.

Enfim. Essa paz.

Essa paz que vem de branco, de azul, de verde, de preto. Essa paz que vem do reflexo do espelho. Desavergonhada. Sorrindo escondido. Olhando pra baixo. Brincando de pique-esconde na rua.

Essa paz que te faz sorrir.