segunda-feira, 12 de março de 2018

Retalhos e coleções

Gostaria de dizer muito do que guardo no coração. Sozinha, às vezes, choro, e em cada lágrima se faz uma batalha perdida. Do que guardo, dói mais o que não foi. O que ficou perdido nas entrelinhas. O que chegou ao quase, e em quase se eternizou. Aquilo que perdeu o brilho. Que perdeu o charme. Que ficou por remendar. A saia descosturada, junto com meia dúzia de palavras não ditas. Vou levando comigo rasgos e desajustes. Notas desafinadas, sorrisos amarelados, estrela caída, não mais cadente. Uma estranha e familiar melancolia, que desatina os sonhos da gente. Sozinha, muitas vezes, respiro cansada, e em cada arfar se apaga uma luz. Um poste que passa pela cidade. Uma poça de água na rua molhada. A chuva que grita no céu a nossa dor. E, de repente, já não estou mais por aqui. Deixo de mim os retalhos do que construí. Retalhos e coleções passados por mim, de cujos donos roubei um pedaço do coração.

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