quarta-feira, 20 de outubro de 2021

Confissão

“Não procures, minha filha, no tempo o que é dado à Eternidade”, ele me disse. Estremeci, tamanha a força dessas palavras.

“Mencionastes, minha filha, que nascestes em Colatina. E noto que és descendente de italianos. Os seus bisavós, vindos de longe... trouxeram bens?” Eu lhe disse que não. “Trouxeram diplomas?”. Eu lhe disse que não. “Trouxeram ferramentas de trabalho?” Não, eu lhe repetia.

E já nem me lembro do quanto eu neguei. Uma pausa se fez, no entanto, e de repente:

“Trouxeram riquezas?” Não hesitei: “não trouxeram, Padre”.

Ele sorriu. “Trouxeram, minha filha. Trouxeram o que lhes havia de mais valioso. Trouxeram a sua família, os seus. Trouxeram uma Madonna no bagageiro. E a certeza do ofício, jamais do trabalho”.

Me senti pequena. Pois era verdade. “Trouxeram a Eternidade, prescindiram do tempo. Não se esqueça”.

Fui para fora. Olhei ao redor. Registrei essa foto. Esta lua neste céu. Este vôo. O Templo sobre a rocha. Não, eu nunca esquecerei.

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