quarta-feira, 20 de outubro de 2021

Even this afternoon

 Duas frases me marcaram na última semana.


A primeira delas encontrei no livro de André Comte-Sponville, Pequeno Tratado das Grandes Virtudes. “O amor é a fidelidade da memória”. Poucas explicações bastariam a tão verdadeira constatação. Não se ama aquilo que se pode esquecer. E o amor se renova não pelo reencontro dos motivos que outrora fizeram a paixão, mas justamente pela conservação da lembrança que ela evoca. E que é causa e consequência do amor, propriamente. Não se ama todos os dias a mesma pessoa com amores diferentes. Senão, é o mesmo amor, que se perfaz no tempo.

A segunda veio de um diálogo em Yorkshire, em 1924, entre o exilado Príncipe russo Igor Kuragin e da condessa inglesa Lady Violet, em Downton Abbey. “I loved you more than I loved her”, ele diz. “Even today. Even this afternoon”. O que dizer senão que esse é o amor de Sponville? Ao que gentilmente damos o nome de “memória”? Décadas de exílio, não da pátria pós revolução, mas exílio do coração. “Even this afternoon”, ele a disse. Ainda naquela tarde ele a teria amado mais que a qualquer outra. E amando, continuaria a amar, pois não há mesura de tempo para o que não envelhece.

Enfim, as reflexões são devaneios que faço, pois não acredito que a vida seja simples, embora seja. O mesmo podendo ser dito para o amor.

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